É o fascínio dessa nossa viagem chamada viver...
O inesperado pode tudo nos oferecer, quando de nada precisamos, e até nos tirar o pouco que resta, quando quase nada temos.
Cada verso arrancado de um sentimento ilhado é uma parte da própria existência que se define no papel com tudo o que ela pode conter de contraditório diante desses vários seres que nos habitam o corpo e a mente.
É o risco de se especular com as emoções...
Onde o encontro deve ser maior que a vontade de estar juntos.
Sofremos cada vez mais a influência de nossas limitações, e nos limitamos sempre na impossibilidade de sermos felizes.
O importante é não dormir no sonho... É superarmos as limitações... É atribuirmos valores a coisas aparentemente pequenas como a pureza de uma criança, ou o lento cultivo de um novo amor... Esse mesmo amor que pode se nutrir desses pequenos segredos que realizam toda a grandeza do nosso viver... Assim como essas pequenas palavras podem colorir uma página de papel em branco, falando apenas de distância e de saudade, ou apenas de amor e de encontro... Se nutrir de pequenos momentos, que como o pulsar contínuo de um relógio, ou como o caminho da areia que marca o tempo ao escorrer por uma ampulheta, nos façam viajar rumo a uma tarde de sol numa bela praia do sul.
As lembranças nos transportam no tempo, e nos fazem reviver os encontros com o inesperado...
Um dia eu sonhei que ainda era menino...
E viajava pelo infinito, preso a um colorido balão de gás... Somos simples meninos num parque de diversões, e o balão é nosso vôo perfeito em busca dos detalhes que ficaram... Porém o mais importante é que a felicidade ainda é alguma coisa ao alcance das crianças, e por elas podem ser conquistadas as fantasias daqueles que cresceram...
Ainda existe um prateado contorno de nuvem no céu... E as lembranças descrevem a parábola de uma gaivota perdida no infinito azul...
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Ontem
arrastei novamente
meu desespero
pelas ruas
... vazias de você.
Pelos meus olhos perdidos
de encantamento
vi desfilarem
vultos e silhuetas
... sósias de você.
Alucinado desencontro
de meu peito
onde não pousou
a ave do segredo
o caminho do medo
... retrato de você.
Então o sonho da cor do arco-íris
se fez fruto proibido
e pelas ruas
vazias de você,
...rios de gente
Que a correnteza arrasta
de tanto amar e procurar
junto com os meus olhos
que te buscam
imagem calidoscópica
turva
e inexata...
-Minha doce prostituta barata.
Acordo...
e o meu braço busca ao lado
o calor do teu corpo,
o abraço.
e descobre
o espaço,
o vazio,
o leito amassado.
Depois...
acordam os meus olhos,
que te buscam
no mundo inteiro
infinito
de meu quarto vazio
de você.
Então
completamente acordo
e os meus sentidos encontram
os primeiros sinais
de você.
Do cheiro
do amor
que é a fuga dos lares
o refúgio nos bares,
O encontro...
Das carências dos pares,
as trocas de olhares
de tantas indagações:
-Quem é você ?
que ocupa essa mesa ao meu lado,
bebendo esse drinque gelado,
e que é dona das atenções ?
Olha...
eu tenho bebido calado
com esse parceiro calado
o copo das ilusões.
-Venha...
beba esse copo comigo,
quem sabe me sirva de abrigo
me faça sorrir... Ou cantar...
Olha...
eu tenho esse jeito sem graça
mas espero só que me faça
Melhor nessa mesa de bar.
Vem comigo...
vamos beber a noite,
o repouso das carícias,
caderno de encontros
realidade das malícias,
Amor escuro, que se faz notícia,
Desencontros...
Amanheceu...
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Aqui pela minha rua
passam uns olhos maliciosos,
e um andar provocante,
que embriagam o meu olhar.
Então os meus olhos carentes
se fazem contentes,
e o eco desses passos
fazem elos de correntes
na coleira do meu peito,
já demente.
E nesse encontro
menino e erótico
andam soltos,
e sem compromissos.
São presente e passado
no mesmo asfalto safado
com meus pobres olhos, molhados,
que se perdem calados,
nessa mesma rua,
à espera da volta
da ilusão.
Então, no outro dia,
de novo me surpreendo
esses meus olhos...
Outra vez parados no asfalto
vendo passar por eles
tanta gente...
que eles não querem ver.
Só esperam pelos olhos maliciosos,
e o andar provocante...
Por isso eu fecho os meus olhos
dormentes,
que de novo se fazem contentes,
à busca de fantasmas e siluetas,
e a sonhar...
com um certo caminhar...
Então nesse meu sonho
secreto,
Há mais uma viagem
infinita,
e a estrada é longa...
Você...
Tão bonita...
É um tipo estranho
numa nave estranha
de um planeta perdido.
Tem a face sofrida,
e um peito aberto,
em pane.
Quando diz a verdade,
exibe o olhar do farsante,
e nos diz o quanto fica perto
tudo aquilo que se faz distante,
e que o olhar frio e triste
do cansaço,
esconde agora a fúria louca
do melhor amante.
Chorou nos parques e se divertiu nas rezas,
bebeu fúteis orações, depois rezou no bares.
derramou tristeza, quando todos riram
e não contemplou a luz, tão mística,
que todos viram.
Então precisou lutar com garra, coragem
e firmeza,
Foi quando parou na esquina,
e virou a mesa.
Provou de um cálice efervescente,
que o fez dançar e cantar embriagado.
Para se perder depois na enganação da lucidez
Achando que assim seria muito, muito...
muito mais amado.
Parou,
Quando viajaram em busca da manhã ensolarada
e depois viajou depressa,
sem saber que o melhor é viajar parado.
Se fez poeta,
louco,
demente,
prá parecer parte dos racionais,
e descobriu que o bem e o mal
são coisas muito diferentes,
mas no fundo...
no fundo elas são iguais.
E que não dá para saber o que é bom,
nem o que é maldade,
se a tristeza e a dor para um,
para o outro é só felicidade.
E agora não se importa
se dorme,
se sonha
se ama ou delira,
se vai ou fica,
se faz pouco ou demais;
ele apenas faz de conta,
disfarça,
dissimula,
enquanto a mesma viagem prossegue
em seu tênue vôo solitário.
Como se fossem bem grandes,
desafiavam os velhos e o tempo.
E como se fossem sábios,
não temiam as sombras, e o vento.
Como se fossem fortes,
não tinham cicatrizes,
nem a face sofrida.
Mas como se fossem meninos...
riam das tragédias,
brincando com a vida.
E esses meninos brincavam de guerra,
se entrincheirando com seus arsenais,
e após a luta cantavam,
já donos da terra:
-Que meninos e homens, são todos iguais.
E depois da batalha empunhavam bandeiras,
que a doce lembrança da Pátria nos traz.
Ensinando os adultos , construiram trincheiras
onde a bomba cruel
em flores se faz.
E dizia o refrão dos meninos da terra:
-Que seu grito de guerra, era a busca da paz.
Eu construí,
Castelos de sombras apagadas,
na lua dos teus olhos.
Estacionei,
À espera de momentos felizes,
nas esquinas de adultério.
Profanei,
A tarde taciturna, quase morta,
de fumaças e cinzeiros apagados.
Encontrei,
A solução da matéria intocável,
na festa do teu corpo nu.
Eu vi,
O mundo dos paradouros risonhos,
de ares e vultos apressados.
Fugi,
De certa penúria de vida mística,
de murmúrios escuros, educados.
Parei,
No inverso dos olhares ansiosos,
de amores flutuantes.
Esqueci,
A paisagem soterrada pela máquina,
como invenção dos sábios.
E soube,
Que a realidade é algarismo pensado
como cantiga sonora de amores desamados.
Desci,
Às profundezas da abnegação humana
onde descobri que também sou gente.
Chorei.
Chorei.
Em cada espaço dos passos,
eu me lembro das coisas.
A rua... o menino... a moça loira... o espelho...
Que angústia.
Se você soubesse não teria ido...
Mas que droga ! Fui eu quem foi.
Eu fui o que fugiu.
-E aquela rosa amarela do sonho...-
Corro as ruas.
Noite... sirene... prostitutas... polícia.... gente...
seqüestro...
assassinatos... eu... eu....eu...
Que vida... que vida !
No trem... na rua... na fila... na espera...
Que dor refletida, nesse viver amanhã...
-E o mais engraçado é que me dói aqui dentro.
Me dói gostoso.
E de repente eu começo a cantar
sem saber porque.
Onde vai o carnaval, que nunca esteve comigo ?
É setembro... Primavera...As pessoas me olham.
Eu canto...
Eu canto sem rítmo,
sem rima,
sem música,
sem nada.
O canto me encanta.
E eu canto, num canto qualquer.
Num canto do mundo,
eu canto meu canto.
Desencanto.
E sinto que tudo isso é você quem faz.
Se você estivesse aqui, para me escutar,
eu não precisaria do canto das ruas.
Das luas,
das nuas...
Se você... se você estivesse aqui comigo
eu não precisaria de vozes, de sonhos...
Vem comigo, vem... vem comigo vida que sonho...
Vem comigo no escuro.
Vem...
que eu preciso dizer um monte de besteiras
ao seu ouvido.
E se eu as dissesse a esses que passam.
eles não me ouviriam.
Ninguém me ouviu quando eu cantei na rua.
Sonhar com você é muito pouco.
Tudo é pouco.
A vida é pouca.
Os gestos são poucos.
As palavras são poucas...
E eu olho em volta,
para me certificar de que ninguém ri.
Agora...
parece que bateram à minha porta.
E já os ouço se afastando lentos...
Pensam que eu já não estou mais aqui.
Já não canto mais.
E que sujeito besta é esse
que me faz ficar fitando o espelho...
Já me arrependo,
Ele me deu bons conselhos,
e eu nunca os ouvi.
Ele não queria que fosse assim,
me ensinou muitos caminhos,
e eu trilhei aquele
que me fizeram acreditar ser o mais certo.
-Eu fui o que fugiu.
Volto prá escuridão de meu quarto de hotel.
Adormeço...
Acho que começo a sonhar...
- E um passarinho amarelo no céu,
prossegue com seu vôo solitário.
que agora é parte do meu travesseiro.
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